Prefiro escrever em quente e nom agardar à noite, onde quizais melhora-se o estilo mas perderia espontaneidade. Consideraçons estúpidas. O caso é que hoje aconteceu algo nojento.
Cheguei hai um pouco. Vinha no bus, de Vigo para Ponte Vedra. O bus do qual eu sempre me queixo que vai parando por tudo Vigo, nom só no Areal. No Areal subiu umha cheia de gente. Co tranquilinhos que iamos até esse momento...
-Este é o que vai a Ponte Vedra, nom si?
-Onde queres ir, arriba ou abaixo?
-Dos billetes, por favor.
Era um autobus de duas plantas. Eu ia na d'abaixo. Tinha a bolsa pendurada no asiento e a mochila no chão, entre as pernas, no meu lugar. Nisto que se senta um home ao meu lado. Nom era um velho, teria uns 40 anos. Parecia um pouco inquieto. Nom parava de mover-se e de ranhar a barba. Sentou-se coas pernas exageradamente abertas, de modo que tinha a sua perna esquerda tocando a minha. Nesse momento umha nom quer acreditar, mas já se dá conta. "Será mentres se acomoda". Nom, nom era mentres se acomodava. Começou a fazer pressom coa perna contra a minha. Nom continuamente, empurraba um pouco, deixava estar, voltava a empurrar. Arrimou-se mais. Eu estava de braços cruzados. De repente arrimou também o cóbado. Meio se esfregava. Era antes de entrarmos na autoestrada, eu já nom sabia que fazer. Ia-me apartando pouco e pouco mas nom podia, nom tinha para onde. O meu lugar era o da janela. Pensei em berrar bem alto e bem malhumorada: "Nom colhe no sítio??". "Se nom colhe, cambio-me" e cambiar-me. Pensei-no. Ia pensando nisso todo o caminho, pero nom dizia nada. Quitou a chaqueta que traía. Puxo-a enriba das pernas. Decidim fazer um movimento brusco para ver se parava. Colhim a mochila que estava no chao e puxem-na no colo. Pudem mover um pouco mais a perna e fugir-lhe. Centímetros. Parou um momento. Voltou.
Na ponte de Rande, ao entrar, arrimou-se mais contra mim. Eu devia ter a cara mais séria do mundo. Só fazia mirar pola janela, de braços cruzados, nom me atrevia a mover-me. Nom poderia ainda que quixesse, estava quase colada ao cristal. A cada pouco, apretava-se mais contra a minha perna.
Pensei em dizer o de se nom colhia no asiento outra vez.
Lembrei-me doutra cousa parecida que me passara num vitrasa. O bus ia vazio praticamente. Estava eu e duas ou três pessoas mais. Subiu um velho. O bus estava vazio. Veu-se sentar ao meu carom. Deve ser a técnica estabelecida, pegou a sua perna à minha. Depois moveu o braço e pegou-no ao meu corpo. Pouco e pouco. Depois puxo a mao na sua perna. Depois a mao estava entre a sua perna e a minha. Depois estava na minha. Nesse mesmo momento, levantei-me como um raio, ainda faltava para a parada, dixem: "Perdom, deixa-me passar?" e saim dali. Dei-lhe ao botom da parada. Ainda faltava. Chegamos. O velho baixou-se na mesma parada que mim. Ao princípio pensas que é sem querer. Depois nom queres acreditar que seja à posta.
Que se fai??? Que se fai nestas situaçons??? A mim ninguém me ensinou a saber o que fazer. Ensinarom-me matemáticas, a classificaçom dos substantivos, a diferença entre hay, ahí e ay.
O bus ia cheio. Diante havia quatro mulheres, no asiento do outro lado do corredor havia outro home.
Num instante fiquei paralisada: o home meteu a mao por dentro dos pantalons. Começou a mover o braço. Eu nom acreditava. Começou a esfregar-se contra mim e a bater umha punheta.
Sentim ganas de chorar durante um momento. Depois enfadei-me muito, indignei-me. Sentim grande nojo e um desprezo imenso polo home aquele.
Estava muda e quieta que nem umha estátua.
O único que pensava era "dios mío, a ver se chegamos dumha vez", "a ver se chegamos logo", "temos que estar já a chegar", "que cheguemos dumha puta vez, por dios". "A ver se este filho de puta fica coa palha a medias, hóstia!!!!". "Por que nom lhe berraria antes, por quê??"
Por que a gente (os homes) fai (fam) estas cousas? Que lhes passa pola cabeça para fazer umha cousa dessas? Que classe de educaçom, de sociedade, de valores?
De quando em vez, o home mirava para mim.
Correu-se justo ao entrar em Ponte Vedra. Lançou um suspiro. Sacou a mao e limpou-se contra a camisa. Várias vezes. Sem dissimular.
Ao parar o autobus, baixou quase de primeirinho e liscou. Eu saim um pouco depois. Até aquele momento pensava que estava indignada, cabreada. Foi baixar do autobus e começar a soluçar. Tremia. Tentava dissimular. Passei todo o caminho até a casa, na outra ponta da cidade, contendo-me para nom botar a chorar. Sentia náuseas, sentia-me idiota. Sentia-me degradada, manchada, profanada, suja. Sentia-me violentada. Sentia-me estúpida.
Exagero? Talvez.
Suponho que foi muita tensom. Estava (estou) shockada. Ainda agora nom o creio. Cada vez que o penso dá-me vontade de chorar.
O relato é esse. Nom é objectivo, descreve mais ou menos as minhas sensaçons. Nom o escrevo aqui para "fazer queixinhas" à plateia; nom pretendo ir de vítima, se resultou vitimista fique claro que nom é o que pretendia.
Julguem vds.
Detalhe: nom som especialmente atraente, quem me conhece sabe-o, e nom levava saia nem mini saia nem decote nem roupas provocantes de nengum tipo. Estava tranquilamente sentada no meu lugar do autobus. O trajecto demora meia hora.
Que se fai?