quarta-feira, 25 de abril de 2012

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Vampiros - José Afonso


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Passa o tempo mas tudo continua vigente. Para que depois falem em nom-sei-quê trasnochado e se ridiculizem discursos por anacrônicos e antiquados quando ainda nos vamos ver obrigados a desenterrar mosquetons e guilhotinas metafóricas, mas sem desmerecerem em eficácia.


[Imagem de Coniac Publishing em FreeStockPhotos]

domingo, 8 de abril de 2012

All i oli ou a sorte do principiante

Talvez porque o outro dia me sentia parcialmente optimista ou porque simplesmente quis tentar a minha sorte meteu-se-me na cabeça a ideia de tentar fazer alioli. A mão. Porque a pouca tecnologia que havia disponível em forma de batedora está fora de combate.

Depois de um breve período de documentação pola rede adiante, porque não sabia que quantidades e ingredientes, além dos óbvios, levaria ou que técnica haveria que aplicar, mas intuindo que era deste tipo de preparações mágicas e delicadas como a maionese, o pil-pil, o souffle, que não se sabe se são realmente possíveis ou, polo contrário, se são da natureza dos biosbardos, deparei-me efectivamente com maus agoiros e premonições e truques variados (como engadir ovo) destinados a evitar fracassos estrepitosos.

Como resultado, foi com certa apreensão, poucas esperanças e energia decrescente que comecei a remexer os ingredientes básicos, como o próprio nome indica, no morteiro: um pouco alho e azeite. E sal.

Minutos, horas e dias passavam, dá-lhe que dá-lhe, mas àquilo não se lhe viam pintas. Até que de repente, assim como do nada, funcionou!!!


Não se aprecia na foto, mas o morteiro é pequeníssimo, do tamanho da palma da mão. A quantidade que saiu era mínima ou, melhor dizendo, adequada para experimentar, não fosse ser o demo, e o sabor manifestamente melhorável (demasiado alho e demasiado sal) mas... emulsionou!

Seria só a sorte do principiante, mas, ah, a satisfação da ousadia recompensada não se paga com dinheiro. Agora sim, terei-no que repetir algum dia para ver se foi que aquela vez estavam os planetas alinhados ou se é que realmente se pode fazer.

De todos modos, toda esta longa e accidentada introdução era só para falar do fascínio hipnótico que este tipo de tarefas mecânicas, manuais, repetitivas exercem em quem as realiza. Esse efeito calmante, quase anestésico, proporciona pouco menos que uma espécie encantamento e a necessária tranquilidade mental que tanta falta faz em tempos de tormento e tribulação.

Por outro lado, a magia fisico-química que se produz nos lípidos ou nas proteínas é incrível. Assistir a uma transformação estrutural dessas de primeira mão, nunca melhor dito, resulta-me assombroso.

Como lógica consequência e polo bem da minha, ahem, linha, estou a considerar se deveria conseguir um rosário e começar a rezar a novena, que deve ter um efeito narcótico similar. Tudo seja pola absorvente sensação de relaxação e por preservar a (pouca) saúde mental que ainda resta.

Em definitiva, um torturado prazer em que o pulso se ressinte um pouco, mas prazer que bem vale uma que outra cambra no bracinho resignado, sempre que seja por uma boa causa.

Para terminar, informar de que hai dous dias estivem a montar nata para morangos. A mão, naturalmente. Podem tirar as suas conclusões.

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Deus bendiga as licenças poéticas!